sábado, 20 de junho de 2015

A paralisia facial periférica – sabe o que é?

A paralisia facial periférica é a diminuição ou ausência completa de força dos músculos de um dos lados da face. Isto acontece quando o nervo que controla estes músculos (o nervo facial) fica lesionado em algum ponto do seu trajeto e deixa de funcionar. Este nervo é responsável pelo funcionamento dos músculos da mímica facial (sorrir, enrugar a testa, piscar e fechar os olhos), do músculo estapédio do ouvido interno (com importante controlo da audição), pela produção de lágrimas e saliva e pelo sentido do gosto na parte anterior da língua.

Nas crianças, é uma patologia rara; o número de casos aumenta com a idade. O risco triplica durante a gravidez e quadruplica nos doentes diabéticos. 

Porque é que acontece?
A lesão do nervo resulta de um processo inflamatório ou compressão local. Há muitas causas possíveis: infeções por vírus (herpes, varicela, gripe, mononucleose) ou bactérias (doença de Lyme), otite, traumatismo craniano ou hipertensão arterial, entre outras. Os tumores são uma causa possível, mas muito rara na idade pediátrica.

Nas crianças, muitas vezes não se consegue encontrar a causa da paralisia facial periférica, e os médicos chamam-lhe, neste caso, idiopática ou paralisia de Bell (dois terços dos casos).

Quais são os sintomas?
- Como há dois nervos faciais, um para cada lado da face, e habitualmente só um fica afetado, o que se nota é uma assimetria facial;
- A sobrancelha fica descaída e sente-se dificuldade em levantá-la ou enrugar a testa;
- Dificuldade em fechar completamente o olho;
- Ardor ocular por olho seco ou lacrimejo porque não consegue fechar bem o olho;
- Desvio da boca para o lado não paralisado, o que dificulta sorrir e soprar;
- Por vezes ouvem-se os sons de forma mais intensa e desconfortável no lado afetado;
- O sentido do gosto pode também ficar alterado e ter dificuldade em saborear os alimentos. 

Quando devo consultar o médico?
Quando os sintomas aparecem é aconselhável consultar o médico para que ele possa avaliar o grau de paralisia, tentar descobrir a causa e aconselhar tratamento.

E como se faz o diagnóstico? São necessários exames?
Não existe nenhum teste que faça o diagnóstico e geralmente não está indicado fazer exames. A história clínica (forma de instalação dos sintomas, presença ou não de outras queixas ou doenças) e a observação da criança é o que mais ajuda o médico a fazer o diagnóstico e decidir se é necessário realizar exames.

Pode ser necessário colheita de sangue se se suspeitar de infeção. Os exames radiológicos (TAC ou ressonância magnética) poderão estar indicados se há história de traumatismo da cabeça, se a criança tem falta de força noutras partes do corpo ou outros sinais suspeitos de lesão cerebral. Se a progressão dos sintomas for arrastada (mais de 3 semanas) e não ocorrer melhoria após 6 meses ou se houver recorrência da paralisia, também podem ser necessários estes exames.

Outros estudos que avaliam a atividade do nervo ou do músculo geralmente não se realizam.

Quando a suspeita é paralisia de Bell, o habitual é que não se realize nenhum exame e se reavalie a criança um mês depois em consulta. Na paralisia de Bell, os sintomas aparecem subitamente e a falta de força vai progredindo tornando-se mais evidente no terceiro dia. Não se acompanha de qualquer outra queixa ou alteração na observação (exame físico) da criança. Por vezes há referência a uma infeção vírica poucas semanas antes. 

Como se trata?
Na maioria das crianças, a paralisia de Bell recupera espontaneamente e sem sequelas, em 3 a 8 semanas. Este é um dos motivos por que o médico pode decidir não prescrever qualquer fármaco se a paralisia for ligeira.

De qualquer forma, se existe dificuldade em fechar o olho, é muito importante protegê-lo. É aconselhável aplicar lágrimas artificiais várias vezes por dia e usar óculos de sol sempre que sair de casa. À noite pode ser aplicada uma pomada ocular (e eventualmente fazer oclusão do olho se este permanecer aberto).

Há alguns exercícios que se podem fazer em casa para recuperar a mímica, como assobiar, beber líquidos com palhinha ou encher balões.

Embora não exista clara evidência de melhoria com medicamentos, em algumas situações, especialmente nos mais graves (e com maior benefício se iniciado nos primeiros dias da doença), o médico pode prescrever corticoides durante uns dias, de forma a reduzir a inflamação do nervo. Como este tratamento é de curta duração, habitualmente é bem tolerado.

Noutras formas de paralisia facial, o tratamento vai depender da causa: se suspeitar de infeção bacteriana, prescreverá um antibiótico; se existir lesão cerebral com compressão do nervo, pode estar indicada a cirurgia. Nos casos em que a paralisia é devida à reativação do vírus herpes na região do ouvido (herpes zoster ótico) ou, eventualmente, nos casos graves de paralisia facial periférica, está indicado o tratamento com corticoides e um medicamento antiviral.

Qual é o prognóstico? Vai recuperar?
O prognóstico depende da causa e do grau de lesão do nervo. 

Na paralisia de Bell, o prognóstico é excelente e a maioria (mais de 90%) recupera espontaneamente sem sequelas. Neste caso, a melhoria começa a notar-se após 3 semanas, com resolução após 6 a 8 semanas. Como dissemos anteriormente, esta é a forma mais frequente da doença nas crianças.

Nos casos mais graves, com ausência completa de força dos músculos da face, a recuperação é mais lenta e podem surgir sequelas, como assimetria facial (por recuperação incompleta), contraturas musculares, movimentos anormais dos músculos da face ou lacrimejo involuntário.

As recorrências (mais do que um episódio) são raras (menos de 10%) e devem ser investigadas.

Fique atento
Enquanto aguarda pela reavaliação em consulta, recomenda-se que a criança seja observada pelo médico se apresentar algum destes sintomas: dor de cabeça intensa, vómitos ou algum outro sintoma neurológico (confusão, dificuldade ou desequilíbrio ao caminhar, impossibilidade ou limitação de movimento de outros músculos,…).

Ângela Pereira, com a colaboração da Dr.ª Célia Barbosa, Neuropediatra do Hospital de Braga

Fonte: Educare por indicação de Livresco

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