sábado, 8 de agosto de 2015

Um em cada cinco alunos chumba ou desiste no ensino secundário

O Ministério da Educação e Ciência (MEC) calculou pela primeira vez uma “taxa de retenção global do ensino secundário”, que agrega quatro anos letivos — de 2009/2010 a 2012/13 — e os três anos curriculares que constituem o ensino secundário: 10.º, 11.º e 12.º. Este cálculo revela que mais de um em cada cinco alunos (22%) inscritos nos cursos científico-humanísticos do ensino secundário chumba ou desiste ao longo do seu percurso. Mogadouro, Ourique, Amadora, Penamacor, Mora e Alter do Chão são os concelhos que apresentam piores resultados — qualquer um deles tem 33% de chumbos ou desistências.

No portal Infoescolas, que é atualizado neste sábado com novos dados, é possível saber qual a média (ponderada pelo número de alunos matriculados) de chumbos e desistências em cada escola, concelho e distrito, por ano letivo e ano de escolaridade. Mas a tutela divulgou também dados que permitem ir além do retrato ano a ano, e ver qual a taxa média de insucesso dos últimos anos. Faro, Setúbal e Bragança são os distritos que mais se distinguem pela negativa, com uma taxa de retenção/desistência no secundário de 25%. Viana do Castelo é o que está melhor: 18%. (...)

O Infoescolas mostra ainda como nos últimos anos a taxa de retenção tem diminuído no 10.º ano — passou de 18% para 16% de 2009/10 para 2012/13. E como no 11.º e no 12.º subiu — no 11.º passou de 12% para 14% e no 12.º ano de 33% para 36%.

De acordo com a definição do MEC, a taxa de retenção/desistência é a percentagem de alunos que não podem transitar para o ano de escolaridade seguinte, por razões diversas, entre as quais o insucesso escolar e a anulação da matrícula. Os dados referem-se apenas aos alunos matriculados em cursos científico-humanísticos — ou seja, os cursos que têm mais matriculados e os que estão especialmente vocacionados para o prosseguimento de estudos de nível superior. De fora ficam, por exemplo, os cursos profissionais.

Escolas que “puxam para cima”
O Infoescolas foi lançado no início deste ano e é agora atualizado e reforçado com uma base de dados que permite fazer comparações diretas entre escolas. São várias as questões a que permite dar resposta. Das mais simples — Quantos alunos? Como se distribuem por idades e por cursos? Há mais rapazes ou raparigas? — às mais complexas. Como esta: como se comparam os resultados dos alunos de uma dada escola, no 12.º ano, com os resultados dos alunos de escolas em contextos socioeconómicos semelhantes? A base de dados mostra, por exemplo, que há 114 escolas públicas do país que conseguiram, nos últimos anos, superar as taxas de conclusão que seriam expectáveis tendo em conta o seu contexto.

E entre o 9.º e o 12.º ano, como progridem os alunos? Estão as escolas a fazer com que melhorem, ou quando se compara os resultados que eles têm no final do secundário, com os dos colegas do resto do país, percebe-se que estão a ser “ultrapassados”?

Para estas duas últimas interrogações, eis algumas respostas que podem ser retiradas dos dados fornecidos: há 26 estabelecimentos de ensino que estão claramente a “puxar os alunos para cima” (expressão usada pelos estatísticos do ministério) a Português — estas escolas estiveram sempre no “top 25” das maiores progressões nos últimos anos (entre 2010 e 2014). Nove são privadas, as restantes públicas. Na Matemática, 37 escolas conseguiram o mesmo feito — nove são privadas e 28 públicas.

Esta conclusão é o resultado de um indicador desenvolvido pelo ministério de Nuno Crato chamado “Indicador da progressão dos resultados dos alunos entre os exames do 9.º ano e do 12.º ano, quando comparados com os outros alunos do país”. No essencial é isto: os resultados que os alunos obtiveram nos exames nacionais de Português e Matemática do 12.º ano são comparados com os resultados que haviam obtido, três anos antes, nos exames do 9.º ano.

Se um aluno no 9.º ano estava abaixo da média nacional e no 12.º está acima, então considera-se que tem uma progressão relativa positiva. Já um aluno que mantém a sua posição “tem uma progressão neutra”. E um aluno que no 9.º ano estava muito acima da média nacional e no 12.º ano está abaixo, ou só ligeiramente acima da média, tem, para o MEC, uma progressão relativa negativa. “O que acontece é que os seus colegas progrediram mais do que ele, em média, e portanto ele foi ‘ultrapassado’ por muitos”, explica o MEC num esclarecimento por escrito (...).

O ministério distribui os estabelecimentos de ensino por três categorias: os que apresentam um indicador de progressão que está entre os 25% mais altos do país (os alunos da escola têm uma progressão superior à média nacional); os que têm uma progressão abaixo da média e apresentam um indicador que está entre os 25% mais baixos do país (os alunos da escola têm uma progressão inferior à média nacional); e os que estão em linha com a média.

E conclui que só cinco escolas, em 575 para as quais há dados, conseguem o feito de em todos os anos analisados, e simultaneamente a Português e a Matemática, estar no grupo onde a progressão positiva dos alunos entre o 9.º e o 12.º foi mais forte. São elas três públicas (Escola Básica e Secundária de Búzio, em Vale de Cambra, distrito de Aveiro, a Secundária de Póvoa de Lanhoso e a Básica e Secundária de Ponte da Barca) e duas privadas (o Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto, e o Colégio da Trofa).

Escolas onde menos se progride
No fim da tabela estão escolas onde, “sistematicamente, os alunos menos progridem entre o 9.º e o 12.º, quando comparados com a média dos outros alunos do país”. Há três escolas, todas públicas, que estiveram sempre no “bottom 25%”, tanto a Português como a Matemática, nos anos analisados: a Secundária Dr. João Carlos Celestino Gomes, em Ílhavo, a Secundária de Odivelas e a Secundária Madeira Torres, em Torres Vedras.

Olhando apenas para o Português, 35 escolas estiveram sempre no grupo das 25% progressões relativas mais baixas — 31 são públicas. A Matemática, aconteceu o mesmo com 27 escolas — 25 das quais públicas.

O MEC entende que este “indicador de progressão” tem muitas vantagens face aos tradicionais rankings que ordenam as escolas das melhores para as piores médias nos exames nacionais, sem ter em conta o tipo de alunos que as escolas recebem. Desde logo, por isto: uma escola secundária que receba alunos no 10.º ano com resultados académicos baixos pode sair-se bem na fotografia se os seus alunos no 12.º ano estão melhor do que estavam no 9.º, relativamente à média nacional.

Apenas um exemplo: nesta avaliação, a Escola Básica e Secundária de Búzio, em Vale de Cambra, distingue-se por ter sempre dos mais altos níveis de progressão; já no ranking nacional de 2014, feito só com base nas notas dos exames, não passava do 246.º lugar, em 621 escolas. Também há escolas que conseguem ficar bem nas duas fotografias — nos rankings e nesta avaliação. Por exemplo: o Colégio da Nossa Senhora do Rosário distingue-se no indicador de progressão e estava em 1.º lugar no ranking de 2014.

O MEC acredita que este indicador tem ainda outras vantagens, como não depender diretamente “de variações na dificuldade dos exames, pois não é calculado a partir das notas absolutas, mas sim a partir da posição relativa dos alunos face às médias nacionais".

Na base de dados que agora será divulgada para além de escolas, pode comparar-se concelhos e distritos. Póvoa do Lanhoso e em Ponte da Barca estão, em todos os anos analisados, no grupo dos 25% com progressões mais altas, simultaneamente a Português e Matemática.

Alargando a análise ao distrito, Braga é o que melhor se sai: esteve sempre no grupo dos 25% com melhores progressões.

Fonte: Público

Sem comentários: